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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Barbosa Lessa

Barbosa Lessa
Barbosa Lessa (Luís Carlos Barbosa Lessa), compositor, escritor, folclorista e radialista, nasceu em Piratini, RS, em 13/12/1929, e faleceu na cidade de Camaquã, RS, em 11/03/2002. Gostava de música desde criança, aprendendo piano com a mãe, Alda. Aos 18 anos, em Porto Alegre RS, começou a compor, interessando-se logo em seguida por temas folclóricos gaúchos. Dos 20 aos 23 anos dedicou-se à pesquisa e adaptação de músicas do folclore local, embora continuasse compondo, particularmente sobre temas regionais gaúchos. 

Em 1953 tinha um programa sobre música regional na Rádio Farroupilha. Procurado pelo Conjunto Farroupilha, que havia recebido convite da etiqueta carioca Rádio para gravar o segundo LP de uma série, com música gaúcha, entregou-lhes várias composições suas, entre elas o Negrinho do pastoreio, usada na abertura do seu programa. A música, depois de gravada, tornou-se característica do conjunto em suas apresentações. 

Em 1954 mudou-se para São Paulo, SP, onde entrou em contato com a cantora Inezita Barroso, que então começou a divulgar danças gaúchas em programas de rádio e televisão, além de discos (vide o LP Inezita Barroso com o Grupo Folclórico Barbosa Lessa, logo abaixo). No mesmo ano foi um dos fundadores da SADEMBRA. Com Paixão Cortes recolheu várias canções folclóricas gaúchas, gravadas em 1955: O anu, Balaio, Cana verde, Chimarrita-balão, Maçanico, Pezinho, Quero-mana, Tatu, O xótis (Xótis da laranjeira) etc. 

Por 1956 passou por sua única experiência como cantor, quando compôs e interpretou no filme Cara de fogo, de Galileu Garcia, duas canções, Moço, ei moço! e Entrevero no jacá, esta em parceria com Danilo de Castro. No mesmo ano compôs outro tema regional gaúcho para o filme O sobrado, de Walter Georges Durst e Cassiano Gabus Mendes. 

Em 1957, ano do lançamento de Cara de fogo, chegou a gravar um 78 rpm pela RGE, com Entrevero no jacá e Dezoito de Junho, esta em parceria com José Manzano Filho. Um ano depois compunha Terra morna, Generoso e Feitiço Índio, para o filme Paixão de gaúcho, de Walter Georges Durst. Depois passou dois anos realizando o levantamento do folclore musical-coreográfico de todo o país, do Amazonas ao Rio Grande do Sul. 

Entre 1958 e 1960, também promoveu shows em que às vezes se apresentavam Os Titulares do Ritmo, conjunto que convidaria, em 1962, para gravar o LP O Rio Grande do Sul ou O gaúcho canta, que produziu e foi lançado pela Fermata, com arranjos do maestro Francisco Morais. Em 1962 realizou, no centro de São Paulo, uma feira de arte popular, que reuniu artistas de todo o Brasil. 

Publicou: Chimarrão, São Paulo, 1953; O boi das aspas de ouro, Porto Alegre, 1958; Os guaxos, Rio de Janeiro, 1959; Cancioneiro do Rio Grande, São Paulo, 1962. Em colaboração com Paixão Cortes, publicou ainda Manual de danças gaúchas, com suplemento musical e ilustrativo, Porto Alegre, 1956 (2 ed., São Paulo, 1969; 3 ed., São Paulo, 1968), e Danças e andanças da tradição gaúcha, Porto Alegre, 1975 (2’ ed., Porto Alegre, 1975). 

Em 1974, retornou a Porto Alegre, onde permaneceu até 1987, ano em que, aposentando-se, transferiu-se para Camaquã RS, ali mantendo com sua esposa uma reserva ecológica particular. Em 1979 foi convidado pelo governador Amaral de Sousa para trabalhar na área da cultura. Como secretário estadual da Cultura, idealizou e pré-inaugurou em 1983 a Casa de Cultura Mário Quintana. 

Depois que retornou ao Rio Grande do Sul, desenvolveu grande atividade literária, dedicando-se principalmente à história e a temas regionais, publicando, entre outros, Porto Alegre: Terra gente, Porto Alegre, 1976; Usos e costume gaúchos, Porto Alegre, 1978; O gaúcho ontem e hoje, Porto Alegre, 1979; Problemas brasileiros, uma perspectiva histórica (2 vols.), Porto Alegre, 1980; Calendário histórico-cultural do RS, Porto Alegre, 1981; Rio Grande do Sul, prazer em conhecê-lo, Porto Alegre, 1984; Aspectos da sociabilidade do gaúcho (com Paixão Cortes), Porto Alegre, 1985 e Almanaque dos gaúchos, Porto Alegre, 1997. Atuou também em emissoras de rádio, TV e como roteirista de cinema e redator de histórias em quadrinhos.

Izezita Barroso com o Grupo Folclórico Barbosa Lessa.

Obra

Canção do tropeiro, toada, 1960; O carreteiro, toada, 1948; Chamarra do Calaveira (c/Heleno Jimenez), chimarrita, 1982; Chula (c/Paixão Cortes), dança, 1953; Despedida, toada andante, 1962; Dezoito de Junho ou Alma do Rio Grande (c/José Manzano Filho), 1961; Feitiço índio, missioneira, 1958; Generoso, toada, 1958; Hino tradicionalista, marcha, 1998; João-de-barro, valsa, 1961; Kerb no céu, valsa, 1974; Milonga do casamento, 1956; Negrinho do pastoreio, toada, 1948; Passarinho bem-querê, missioneira, 1962; Pôr-do-sol no Guaíba, marcha-rancho, 1974; Quando sopra o minuano ou Levanta, Gaúcho!, missioneira, 1961; Redondo, Sinhá! (c/Paixão Cortes), sobre tema popular, 1954; Tiaraju, toada andante, 1961; Trago a filha na garupa, toada, 1962.

Fonte: Enciclopédia da Música Brasileira - Art Editora e PubliFolha.

Jaime Caetano Braun


Jaime Guilherme Caetano Braun (Timbaúva-RS, 30/1/1924 — Porto Alegre-RS, 8/7/1999) foi um renomado payador (1), radialista e poeta do Rio Grande do Sul, prestigiado também na Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Era conhecido como El Payador e por vezes utilizou os pseudônimos de Piraj, Martín Fierro, Chimango e Andarengo.

Jaime nasceu na Timbaúva (hoje Bossoroca), na época distrito de São Luiz Gonzaga, na Região das Missões no Rio Grande do Sul. Durante sua carreira fez diversas payadas, poemas e canções, sempre ressaltando o Rio Grande do Sul, a vida campeira, os modos gaúchos e a natureza local. Sonhava em ser médico mas, tendo apenas o ensino médio, se tornou um autodidata principalmente nos assuntos da cultura sulina e remédios caseiros, pois afirmava que "todo missioneiro tem a obrigação de ser um curador".

Aos 16 anos mudou-se para Passo Fundo, onde viveria até os 19 anos. Nessa cidade, completou seus estudos no Colégio Marista Conceição e serviu ao Exercito Brasileiro. Foi membro e co-fundador da Academia Nativista Estância da Poesia Crioula, grupo de poetas tradicionalistas que se reuniu no final dos anos 50, na capital gaúcha.

Trabalhou, publicando poemas, em jornais como O Interior e A noticia (de São Luiz Gonzaga). Passa dirigir em 1948 o programa radiofônico Galpão de Estância, em São Luiz Gonzaga e em 1973 passa a participar do programa semanal Brasil Grande do Sul, na Rádio Guaíba. Na capital, o primeiro jornal a publicar seus poemas foi o A Hora, que dedicava toda semana uma página em cores aos poemas de Jaime.

Como funcionário público trabalhou no Instituto de Pensões e Aposentadorias dos Servidores do Estado e ainda foi diretor da Biblioteca Pública do Estado de 1959 a 1963, aposentando-se em 1969. Na farmácia do IPASE era reconhecido pelo grande conhecimento que tinha dos remédios.

Em 1945 começa a atuar na política, participando em palanques de comício como payador. O poema O Petiço de São Borja, publicado em revistas e jornais do país, fala de Getúlio Vargas. Participa das campanhas de Ruy Ramos, com o poema O Mouro do Alegrete, como era conhecido o político e parente de Jaime. Foi Ruy Ramos, também ligado ao tradicionalismo, que lançou Jaime Caetano Braun como payador, no 1º Congresso de Tradicionalismo do Rio Grande do Sul, realizado em Santa Maria no ano de 1954.

Casou duas vezes, em 1947 com Nilda Jardim, e em 1988 com Aurora de Souza Ramos. Teve três filhos, Marco Antônio e José Raimundo do primeiro casamento, e Cristiano do segundo. Veio a falecer de parada cardíaca em 8 de julho de 1999, em Porto Alegre. Seu corpo foi velado no Palácio Piratini, sede do governo sul-riograndense, e enterrado no cemitério João XXIII, na capital do estado.


Obra

Lançou diversos livros de poesias, como Galpão de Estância (1954), De fogão em fogão (1958), Potreiro de Guaxos (1965), Bota de Garrão (1966), Brasil Grande do Sul (1966), Passagens Perdidas (1966) e Pendão Farrapo (1978). Em 1990 lança Payador e Troveiro, e seis anos depois a antologia poética 50 Anos de Poesia, sua ultima obra escrita. Publicou ainda um dicionário de regionalismos, Vocabulário Pampeano - Pátria, Fogões e Legendas, lançado em 1987.

Gravou CDs e discos, como Payador, Pampa, Guitarra, antológica obra em parceria com Noel Guarany. Sua ultima obra lançada em vida foi o disco Poemas Gaúchos, com sucessos como Payada da Saudade, Piazedo, Remorsos de Castrador, Cemitério de Campanha e Galo de Rinha.

Entre seus poemas mais declamados pelos poetas regionalistas do país inteiro, destacam-se Bochincho, Tio Anastácio, Amargo, Paraíso Perdido, Payada a Mário Quintana e Galo de Rinha.


(1) Payada é uma forma de poesia improvisada vigente na Argentina, no Uruguai, no sul do Brasil e no Chile (onde chama-se Paya). É uma forma de repente em estrofes de 10 versos, de redondilha maior e rima ABBAACCDDC, com o acompanhamento de violão.