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terça-feira, 28 de março de 2006

Angelino de Oliveira

Angelino de Oliveira, compositor e instrumentista, nasceu em Itaporanga SP (21/4/1888) e faleceu em São Paulo SP (24/4/1964). Filho único de modestos lavradores que se mudaram para Botucatu SP quando ele tinha seis anos. Autodidata, tocava violão, guitarra portuguesa e violino, na orquestra do Gabinete Literário e Recreativo, e trombone na Banda de Música São Benedito.

Por volta de 1917, formou o Trio Viguipi, que com ele no violino, José Maria Castro Pérez no violão e Luís Batista de Carvalho Cardoso no piano, apresentou-se na capital, Santos SP e cidades do interior do Estado.

Apresentou oficialmente em primeira audição sua célebre canção ou toada paulista Tristezas do jeca no Clube 24 de Maio, em 1918, com seu acompanhamento ao violão. Foi gravada originalmente (sem a letra) pela Orquestra Brasil-América, em disco Odeon lançado no final de 1923.

Em 1926 a Odeon lançou Tristezas do Jeca cantada por Patrício Teixeira com grande êxito. Morando em Ribeirão Preto SP desde 1924, voltou a Botucatu e abriu uma loja de instrumentos, A Musical, exercendo também as atividades de dentista prático e diretor artístico da PRF-8 Rádio Emissora de Botucatu.

Sua discografia é pequena em relação ao que produziu. Grande boêmio, nunca se preocupou em gravar ou sequer guardar suas músicas. Só o zelo de amigos conseguiu salvar algumas das 80 relacionadas. Em 1930, Paraguaçu, com o pseudônimo de Maracajá, no selo vermelho de Cornélio Pires na Columbia, gravou A incruziada, canção-toada, e Cantando o aboio. No mesmo ano, o Trio Ortega gravou Cabocla do sertão.

Em 1931, Paraguaçu gravou com sucesso Tenho pena de meus olhos, canção-toada, também cantada por ele no filme O campeão de futebol, da Sincrocinex, desse ano. Em 1936, o mesmo Paraguaçu lançou a canção Lua cheia e, no ano seguinte, regravou Tristezas do Jeca, um enorme êxito. Em 1942, Cobrinha e Capitão, cantores de Piracicaba SP, gravaram Caboclo velho e Saudades de Botucatu.

quarta-feira, 22 de março de 2006

Luar do sertão

luar do sertão

A toada "Luar do Sertão" é um dos maiores sucessos de nossa música popular em todos os tempos. Fácil de cantar, está na memória de cada brasileiro, até dos que não se interessam por música. Como a maioria das canções que fazem apologia da vida campestre, encanta principalmente pela ingenuidade dos versos e simplicidade da melodia. Embora tenha defendido com veemência pela vida afora sua condição de autor único de "Luar do Sertão", Catulo da Paixão Cearense deve ser apenas o autor da letra.

A melodia seria de João Pernambuco ou, mais provavelmente, de um anônimo, tratando-se assim de um tema folclórico - o côco "É do Maitá" ou "Meu Engenho é do Humaitá" -, recolhido e modificado pelo violonista. Este côco integrava seu repertório e teria sido por ele transmitido a Catulo, como tantos outros temas. Pelo menos, isso é o que se deduz dos depoimentos de personalidades como Heitor Villa-Lobos, Mozart de Araújo, Sílvio Salema e Benjamin de Oliveira, publicados por Almirante no livro No tempo de Noel Rosa.

Há ainda a favor da versão do aproveitamento de tema popular, uma declaração do próprio Catulo (em entrevista a Joel Silveira) que diz: "Compus o Luar do Sertão ouvindo uma melodia antiga (...) cujo estribilho era assim: 'É do Maitá! É do Maitá"'. A propósito, conta o historiador Ary Vasconcelos (em Panorama da música popular brasileira na belle époque) que teve a oportunidade de ouvir "Luperce Miranda tocar ao bandolim duas versões do 'É do Maitá': a original e 'outra modificada por João Pernambuco', esta realmente muito parecida com Luar do sertão".

Homem humilde, quase analfabeto, sem muita noção do que representavam os direitos de uma música célebre, João Pernambuco teve dois defensores ilustres - Heitor Villa-Lobos e Henrique Foreis Domingues, o Almirante - que, se não conseguiram o reconhecimento judicial de sua condição de autor de Luar do Sertão, pelo menos deram credibilidade à reivindicação. Ainda do mesmo Almirante foi a iniciativa de tornar o Luar do Sertão prefixo musical da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, a partir de 1939.

Luar do Sertão (toada, 1914) - João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense

--------G ----------Em -------Am --------D7-------- G----- D7
Não há, ó gente, oh não luar / Como este do sertão (bis)

--------------G------- Em------------ Am--------------------------- D7
Oh que saudade do luar da minha terra / Lá na serra branquejando
------------------------G D7------- G--------- Em---------- Am
Folhas secas pelo chão / Esse luar cá da cidade, tão escuro
--------------------------D7------------------- G------- D7
Não tem aquela saudade / Do luar lá do sertão (refrão)

--------------G --------Em ---------Am--------------------------- D7
A gente fria desta terra sem poesia / Não se importa com esta lua
-----------------------G D7------------- G--------- Em------- Am
Nem faz caso do luar / Enquanto a onça, lá na verde capoeira
------------------------D7-------------------- G------ D7
Leva uma hora inteira, / Vendo a lua a meditar (refrão)

-----------------G--------------- Em---------- Am
Ai, quem me dera que eu morresse lá na serra
------------------------D7---------------------- G------- D7
Abraçado à minha terra e dormindo de uma vez
-------------G------------- Em --------Am
Ser enterrado numa grota pequenina
------------------------D7 ----------------G -------D7
Onde à tarde a surunina chora sua viuvez (refrão).

Caboca de Caxangá

Catulo da Paixão
Em entrevista a Joel Silveira, nos idos de 1940, Catulo da Paixão Cearense declarou-se "um sertanejo do sertão", ressaltando o mérito de saber descrevê-lo muito bem, apesar de não conhecê-lo. Parte desse mérito ele deveria creditar ao violonista João Pernambuco (João Teixeira Guimarães), com quem conviveu por diversos anos e que lhe forneceu, além de alguns temas musicais, um variado vocabulário sertanejo que usaria em seus versos. Um exemplo dessa colaboração é a composição "Caboca de Caxangá", que entrou para a história assinada apenas pelo poeta.

Inspirado numa toada que João lhe mostrara e que teria melodia do violonista, composta sobre versos populares, Catulo escreveu extensa letra, impregnada de nomes de árvores (taquara, oiticica, imbiruçu...), animais (urutau, coivara, jaçanã...), localidades (Jatobá, Cariri, Caxangá, Jaboatão...) e gírias do sertão nordestino, daí nascendo em 1913 a embolada Caboca de Caxangá, classificada no disco como batuque sertanejo. E nasceu para o sucesso, que se estenderia ao carnaval de 1914, para desgosto de Catulo, que achava depreciativo o uso da composição pelos foliões.

Caboca di Caxangá (batuque, 1913) - Catulo da Paixão Cearense


LP Paulo Tapajós 1972

E------------------- C7------------------ Fm
Laurindo Punga, Chico Dunga, Zé Vicente
-------------------------B7----------------------E
E esta gente tão valente / Do sertão de Jatobá,
-----------------------C7----------- Fm
E o danado do afamado Zeca Lima,
--------------------------B7-------------------------E
Tudo chora numa prima, / E tudo quer te traquejá.

---------------------B7------------------------E
Caboca di Caxangá, / Minha caboca, vem cá.

------------E---------- C7-------------- Fm
Queria ver se essa gente também sente
-----------------------------B7
Tanto amor, como eu senti,
----------------------------E
Quando eu te vi em Cariri!
-----------------------C7----------- Fm
Atravessava um regato no quartau
-----------------------B7------------------------- E
E escutava lá no mato / O canto triste do urutau.

------------------------B7---------------------------E
Caboca, demônio mau, / Sou triste como o urutau!

E------------------- C7---------------------- Fm
Há muito tempo, lá nas moita das taquara,
-----------------------------B7--------------------------E
Junto ao monte das coivara, / Eu não te vejo tu passá!
------------------C7-------------- Fm
Todo os dia, inté a boca da noite,
------------------------B7----------------------E
Eu te canto uma toada / Lá debaixo do indaiá.

-------------------------B7----------------------E
Vem cá, caboca, vem cá, / Rainha di Caxangá.

E------------------ C7------------------ Fm
Na noite santa do Natal na encruzilhada,
--------------------------B7--------------------------E
Eu te esperei e descantei / Inté o romper da manhã!
--------------------------C7------------ Fm
Quando eu saía do arraiá, o sol nascia
-------------------------B7-------------------E
E lá na grota já se ouvia / Pipiando a jaçanã.

------------------------B7--------------------------E
Caboca, flor da manhã / Sou triste como a acauã!

terça-feira, 21 de março de 2006

Saudades de Matão

Até 1920, quando Saudades de Matão já se tornara bem conhecida, pouco se sabia sobre sua autoria, sendo por alguns considerada tema popular. Então, através da revista A Lua, de São Paulo, Jorge Galati foi identificado como autor da composição (na foto: Raul Torres que fez a letra da valsa).

Nascido na província de Catanzaro (Itália) cm 1885, ele chegou ao Brasil cinco anos depois, quando a família transferiu-se da Europa para São Carlos do Pinhal (SP). Daí em diante, até sua morte em 1969, viveria em diversas cidades paulistas sempre levado por suas atividades musicais.

Assim, após estudar música em São José do Rio Pardo, já exercia com apenas 19 anos a função de mestre da Banda Ítalo-Brasileira de Araraquara. Foi aí, em 1904, que compôs a celebre valsa, originalmente intitulada Francana e que depois, à sua revelia, passou a chamar-se Saudades de Matão. A troca do título aconteceu por volta de 1912, sendo responsável pela mudança Pedro Perches de Aguiar, na época músico em Taquaritinga.

Em 1949, quando Saudades de Matão transformada em sucesso nacional já rendia bons dividendos artísticos e pecuniários, o mesmo Perches resolveu reivindicar sua autoria, estabelecendo-se grande polêmica na imprensa e no rádio.



Carlos Galhardo

O assunto mereceu de Almirante rigorosa pesquisa, havendo em seu arquivo variada documentação a favor de Jorge Galati. Há, por exemplo, uma declaração, registrada em cartório, do Sr. Pio Corrêa de Almeida Morais, prefeito de Araraquara em 1904, que afirma ter ouvido muitas vezes naquele ano Galati interpretar a valsa Francana.

Mas, segundo Galati, apareceram ainda no decorrer do tempo outros pretendentes à autoria da valsa, como Antonio Carreri, José Carlos Piedade, Protásio Tomás de Carvalho, José Stabile e Antenógenes Silva, sendo que este último registrou um arranjo sobre o tema popularizada como peça instrumental, Saudades de Matão recebeu letra de Raul Torres em 1938.

Saudades de Matão (valsa, 1904) - Jorge Galati, Antenógenes Silva e Raul Torres

-------------G--------------- D7--------------------------G
Neste mundo eu choro a dor / Por uma paixão sem fim
--------------------------D7------------------------------- G
Ninguém conhece a razão / Porque eu choro tanto assim
-------------------------D7-------------------- G
Quando lá no céu surgir / Uma peregrina flor
G7-------------------- C--------------------- D7---------------------- G
Pois todos devem saber / Que a sorte me tirou foi uma grande dor
---------D7--------- G---------- D7----------------------- G
Lá no céu junto a Deus / Em silêncio minh’alma descansa
--------D7------------- G
E na terra, todos cantam
---------C----------------- D7---------------------G ----- G7
Eu lamento minha desventura nesta grande dor
C---- G7------- C------------------------ G7
Ninguém me diz / Que sofreu tanto assim
------------------------------------------C------------------ C7
Esta dor que me consome / Não posso viver / Quero morrer
---------------------------------F
Vou partir prá bem longe daqui
------------------------C----- G7------- C
Já que a sorte não quis / Me fazer feliz.

Fonte: A Canção no Tempo - Jairo Severiano e Zuza Homem de Mello - Editora 34

sábado, 18 de março de 2006

Casinha Pequenina

A modinha, o gênero mais lírico e sentimental de nosso cancioneiro, é também o mais antigo, existindo desde o século XVIII. E entre todas as modinhas surgidas nesse longo espaço de tempo, nenhuma seria tão cantada e gravada como a "Casinha Pequenina".

Lançada em disco por Mário Pinheiro em 1906, teria dezenas de gravações figurando no repertório dos mais variados intérpretes, de Bidu Sayão e Beniamino Gigli a Cascatinha e Inhana, de Sílvio Caldas e Nara Leão aos maestros Radamés Gnattali, Lírio Panicali e Rogério Duprat.

Atribuída a autor desconhecido, a "Casinha Pequenina" teve a origem pesquisada pelo musicólogo Vicente Sales, que acredita ser seu criador o paraense Bernardino Belém de Souza. Carteiro e pianista, Bernardino tocou durante algum tempo em navios que faziam a linha Rio-Manaus, aproveitando as viagens para divulgar suas composições no sul do país. Outra autoria possível, mas não comprovada, seria a dos atores Leopoldo Fróes e Pedro Augusto. Segundo Íris Fróes, biógrafa do primeiro, Leopoldo teria recebido de Pedro a letra da "Casinha Pequenina" pronta, e composto a melodia em 1902. A verdade é que nenhum deles jamais reivindicou a paternidade da canção, apesar do sucesso.

Casinha Pequenina (modinha, 1906) - Folclore Popular

Tu não te lembras da casinha pequenina / Onde o nosso amor nasceu / Tu não te lembras da casinha pequenina / Onde o nosso amor nasceu / Tinha um coqueiro do lado / Que coitado de saudade já morreu / Tinha um coqueiro do lado / Que coitado de saudade já morreu

Tu não te lembras das juras e perjuras / Que fizeste com fervor / Tu não te lembras das juras e perjuras / Que fizeste com fervor / Do teu beijo demorado prolongado / Que selou o nosso amor / Do teu beijo demorado prolongado / Que selou o nosso amor

Tu não te lembras do olhar que a meu pesar / Dou-te o adeus da despedida / Tu não te lembras do olhar que a meu pesar / Dou-te o adeus da despedida / Eu ficava tu partias tu sorrias / E eu chorei por toda a vida / Eu ficava tu partias tu sorrias / E eu chorei por toda a vida

Letra da música enviada em 24/06/2000 por: Sirley Thaumaturgo Siqueira. Email: sirley73@hotmail.com.

Versão cifrada da Nara Leão:

              Am                  E7 
Tu não te lembras da casinha pequenina
       Am
Onde o nosso amor nasceu?
           E7
Tu não te lembras da casinha pequenina
     Am A7
Onde o nosso amor nasceu?
Dm Am
Tinha um coqueiro do lado
E7
Que coitado de saudade
Am A7
Já morreu!
Dm Am
Tinha um coqueiro do lado
E7
Que coitado de saudade
Am E7
Já morreu!   
Am           E7
Tu não te lembras das juras e perjuras
  Am
Que fizeste com fervor?
Am           E7
Tu não te lembras das juras e perjuras
     Am A7
Que fizeste com fervor?
Dm Am
Daquele beijo demorado, prolongado
E7
Que selou
Am A7
O nosso amor?  
Dm Am
Daquele beijo demorado, prolongado
E7
Que selou
Am E7 Am
O nosso amor...